Nem a notícia da vida escapou da violência: grávida de gêmeos, Érika foi morta a socos pelo próprio marido em Teófilo Otoni.
O país acordou mais uma vez com sangue nas mãos e vergonha na consciência. Na madrugada de sábado (27), em Teófilo Otoni (MG), a jovem Érika Vidal da Silva Torres Cardoso, de apenas 32 anos, foi morta a socos pelo companheiro Bruno Araújo da Conceição Pinheiro da Silva, de 30 anos. O motivo? A revelação de que estava grávida de gêmeos. A notícia que deveria ser de alegria virou sentença de morte.
A Polícia Militar encontrou o corpo de Érika em uma área de mata próxima à BR-116. O laudo pericial foi claro: nenhum tiro, nenhuma faca — apenas a brutalidade dos punhos de quem deveria protegê-la. No rosto e na cabeça dela ficaram as marcas de uma covardia sem tamanho.
Bruno tentou enganar, fingindo um mal súbito, pedindo ajuda como se fosse um marido desesperado. Mas a farsa caiu rápido. Localizado no bairro Viriato, não demorou a confessar: após uma noite em bares, Érika contou sobre a gestação de gêmeos e ele explodiu em desconfiança, insinuando traição. O ciúme doentio virou assassinato.
Enquanto o corpo era recolhido pelo IML, a polícia apreendia roupas ensanguentadas e a motocicleta do casal. Bruno, com escoriações, foi atendido e levado à delegacia, onde segue preso em flagrante. Mas nada disso apaga a pergunta que ecoa: quantas Érikas ainda precisam morrer até que o sistema funcione de verdade?
Porque não é caso isolado. O Brasil carrega um histórico vergonhoso de feminicídios. Basta lembrar os nomes que se acumulam nas manchetes e depois são esquecidos pelo poder público. Em 2015, a lei do feminicídio foi anunciada como resposta dura à violência contra mulheres, mas de lá pra cá o que mudou? Os números só aumentaram. O Estado prefere a propaganda à proteção real.
Érika morreu grávida de gêmeos — duas vidas ceifadas antes mesmo de nascerem. Não foi tragédia do destino, foi crime anunciado pela negligência de sempre. Um país que prende quem protesta no 8 de janeiro, mas solta agressores reincidentes de mulheres, não pode se chamar justo. É seletivo. É contraditório. É cúmplice.
Mais um velório, mais uma família destruída, mais uma história que se junta à pilha de vidas que o Brasil deixa pelo caminho. Até quando? Até quando vamos aceitar que a “justiça” funcione com dois pesos e duas medidas?
É hora de não se calar. De cobrar, de denunciar, de expor. Por Érika, pelos gêmeos que nunca respiraram, por todas as mulheres que amanhã podem ser a próxima estatística. Compartilhe. Resista. Não se cale.

